As palavras de Mestre Rennyo nos ensinam que pensar “Ah, compreendi!” leva ao orgulho e bloqueia o aprendizado, enquanto dizer “Não compreendo!” reflete humildade e abre o caminho para a verdadeira sabedoria.
Essa lição está enraizada na confiança na compaixão de Buda Amida e na aceitação de nossa limitação como seres humanos.
“Ah, compreendi! Então não compreendeu. Não compreendo! Então compreendeu.”
(Mestre Rennyo)
解説のポルトガル語訳
Essas palavras do Mestre Rennyo contêm um ensinamento profundo que nos orienta para a importância de reconhecermos nossa própria limitação e ignorância no caminho espiritual.
1. “Ah, compreendi! Então não compreendeu.”
Aqui, o Mestre Rennyo nos alerta sobre o perigo de pensar que já entendemos completamente os ensinamentos budistas. Quando acreditamos que “já compreendemos tudo”, nosso coração se fecha, e caímos na arrogância. Essa atitude de autossuficiência nos impede de continuar aprendendo e de nos abrir à sabedoria profunda do Dharma.
No Budismo, particularmente no Jōdo Shinshū, somos lembrados de que a compreensão plena da verdade última está além da capacidade humana limitada. Portanto, esse sentimento de “já compreendi” reflete uma falsa compreensão, um afastamento da humildade essencial para o progresso espiritual.
2. “Não compreendo! Então compreendeu.”
Por outro lado, reconhecer sinceramente que “não compreendo” é um ato de humildade que abre o caminho para a verdadeira compreensão. Essa humildade nos permite receber os ensinamentos com o coração aberto e confiar na compaixão de Amida Buddha. É o reconhecimento de nossa própria imperfeição — a percepção de que somos “seres comuns cheios de paixões” (bonbu no Budismo) — que nos conecta com a sabedoria infinita do Buddha.
No Budismo da Terra Pura, essa atitude reflete o espírito de entrega ao “Outro Poder” (Tariki), confiando não em nossas próprias capacidades, mas na benevolência e sabedoria de Amida.
Aplicação na vida cotidiana
Essa lição também pode ser aplicada em nosso dia a dia. Quando pensamos que “já sabemos tudo”, perdemos a chance de aprender mais e de crescer. Por outro lado, ao admitirmos que “não sabemos o suficiente”, nos abrimos para novas ideias, experiências e entendimentos. Esse é um ensinamento valioso, não apenas no contexto religioso, mas em qualquer aspecto da vida.
As palavras do Mestre Rennyo nos lembram da importância da humildade e da abertura do coração, tanto no caminho espiritual quanto em nossa jornada diária.
Por ocasião da cerimônia de Ohigan da primavera no Templo Marilia Shinsyu Hongwanji, gostaria de oferecer uma breve reflexão.
O Ohigan é um período especial para nós. Durante esse tempo, o fenômeno natural do sol nascendo no extremo leste e se pondo no extremo oeste nos oferece a oportunidade de refletir simbolicamente sobre os conceitos budistas de "Shigan" (este mundo) e "Higan" (o outro mundo). "Shigan" representa o mundo de ilusões e desejos onde vivemos, enquanto "Higan" simboliza a iluminação, a paz e o mundo de Buda.
O templo Shitennoji, em Osaka, foi fundado pelo Príncipe Shotoku em 593 e é considerado o templo mais antigo do Japão. O "Portão Oeste" (Seimon) deste templo está associado ao pensamento Jodo (Terra Pura), refletindo a ideia de que "da Terra Pura está no oeste". Este portão também é chamado de "Portão do Terra Pura" e é considerado a entrada para a Terra Pura. Durante o período do Ohigan, o sol se põe diretamente no oeste, sendo um momento simbólico em que estamos mais próximos da Terra Pura. Por isso, esse período se tornou uma época para expressarmos gratidão aos nossos antepassados e praticarmos o caminho do Nirvana (despertar).
Durante o Ohigan, somos encorajados a refletir sobre nossas ações e nosso estado de espírito à luz dos ensinamentos das Seis Paramitas (virtudes transcendentes). Praticar a generosidade, a moralidade, a paciência, a diligência, a meditação e a sabedoria é o caminho que nos liberta das ilusões e nos aproxima do Higan. Contudo, essas práticas não precisam ser grandes gestos. Pequenos atos, como demonstrar compaixão pelo próximo, controlar a raiva ou realizar boas ações simples no cotidiano, podem purificar nossos corações e nos guiar no caminho da iluminação.
Especialmente no Ohigan da primavera, é a época em que o inverno chega ao fim e a vida renasce. Nessa transformação da natureza, devemos também renovar nossos corações e nos alinhar aos ensinamentos de Buda.
Durante o período do Ohigan, somos encorajados a refletir sobre nossas ações e nossa atitude mental diária com base no ensinamento das Seis Perfeições (Paramitas). Entre essas práticas, o "Dana", ou seja, o ato de generosidade e a compaixão pelos outros, é uma prática essencial no caminho budista. Recentemente, tive uma grande lição sobre isso.
No templo que administro, trabalhamos há muito tempo para melhorar a acessibilidade, de modo que pessoas que usam cadeiras de rodas possam vir visitar e participar dos eventos religiosos com mais facilidade. Recentemente, finalmente concluímos a construção de uma nova entrada adaptada, e muitas pessoas expressaram sua gratidão por isso. Contudo, ao refletir sobre o processo de conclusão desse projeto, percebo que foi o resultado da cooperação da comunidade local e dos membros do templo. Essa experiência me fez perceber novamente a importância do 'Dana'.
Construir uma entrada adaptada para cadeiras de rodas pode parecer um ato especial, mas na verdade, é o resultado da acumulação de pequenas boas ações cotidianas. Todos nós estamos envolvidos no vasto amor compassivo de Amida Buddha, e é importante que não nos esqueçamos dessa compaixão e que vivamos nossos dias com um coração cheio de gratidão e bondade para com os outros. Que neste período do Ohigan, possamos todos praticar atos de 'Dana', mesmo que pequenos, e cultivar em nossos corações a compaixão e o carinho pelos outros.
Na tradição do Jodo Shinshu, somos ensinados que já fomos salvos pela compaixão infinita de Amida Buddha. Não precisamos realizar atos extraordinários para alcançar o Higan, pois já estamos envolvidos pela vasta misericórdia de Amida. Contudo, é importante viver cada dia com gratidão, sem esquecer dessa compaixão.
Neste período do Ohigan, que possamos olhar para dentro de nós mesmos e cultivar o espírito de compaixão e gratidão em nossas relações com os outros. Que possamos juntos recitar o Namu Amida Butsu com o coração cheio de reverência e fé.