Sou nissei nascido em 1950 como quinto filho do total de oito. Mas meu irmão mais velho e o terceiro irmão já tinham falecido quando nasci. Dizem que, em 1941, quando o primeiro filho faleceu com 40 dias de vida, meu pai escreveu 南無阿彌陀佛 (NAMU AMIDA BUTSU) num pedaço de tábua e o ergueu sobre uma caixa para transportar laranja e todos juntos realizaram a cerimônia fúnebre. Como naquela época ainda não havia um monge do Budismo Shin no Brasil, ouvi dizer que o meu avô materno oficiou a cerimônia budista como se fosse um monge e que a partir daquele dia, ele passou a receber chamado sempre que surgia um funeral na vizinhança. Já me perguntaram várias vezes se eu era budista, desde a época em que frequentava a escola primária localizada no meio do cafezal. Acho que sempre respondi que sim.
Entretanto, pensando hoje aos 71 anos de idade, às vezes tenho dúvida se realmente sou um budista. A minha rotina diária começa com a realização do ofício budista junto com a minha esposa e minha irmã mais nova. Encerramos o ofício ouvindo a pregação transmitida pelo rádio, cuja gravação consta no site do Santuário Central em Quioto. Depois, no entanto, quase nunca me lembro das pregações ouvidas e passo o tempo restante do dia, sofrendo com os fatos que ocorrem em desacordo com o que gostaria que acontecessem. Sempre que reflito sobre esse meu comportamento, surge a dúvida se isso é de fato uma atitude de uma pessoa que quer se tornar buda. Nos dias atuais, de vez em quando me vem à memória a pregação ouvida num Congresso Dôbô que participei há anos, quando o mestre nos ensinou: “Tornar-se buda recitando o Nenbutsu, eis o que é o Budismo Shin”.